terça-feira, 19 de novembro de 2013

Mais um aliado na guerra contra o crack

Recentemente surgiu mais um aliado no tratamento do dependente de cocaína. É um método recentemente aprovado no Brasil chamado de Estimulação Magnética Transcraniana de Repetição. O método pode tratar diversas doenças psiquiátricas especialmente a depressão e o Transtorno Bipolar (fase depressiva). Na USP, os pesquisadores estudaram o uso da Estimulação Magnética Transcraniana em Dependentes de cocaína. O resultado do estudo foi excelente. Os dependentes tiveram uma melhora em todos os aspectos da dependência, menos no aspecto cognitivo. Desde diminuição da fissura com diminuição do uso até abstinência total. O estudo será feito em usuários de crack pelo estreito parentesco entre as drogas. Veja esta reportagem sem sair da matéria.


O tratamento contra a dependência química tem pontos em comum, mas algumas estratégias são personalizadas para cada tipo ou grupo de substância. O crack, no Brasil é a droga mais devastadora, mas a taxa de recuperação não é tão baixa. Acompanhei mais de 200 dependentes de crack na região metropolitana de Curitiba por 1 ano, após a alta. O seguimento dos pacientes se deu ao longo de 5 anos. A taxa de usuários que se mantiveram abstinentes pelo período de 1 ano foi de 55%. Este número seria menor se o tempo de acompanhamento fosse maior. Um estudo, realizado pelo psiquiatra Ronaldo Laranjeira, e colaboradores, professor da Universidade Federal de São Paulo, acompanhou 131 usuários de crack por 12 anos. A taxa de usuários recuperados neste período foi de 32%. É uma doença de difícil tratamento. Os melhores resultados são os tratamentos multimodais. A associação de tratamento farmacológico, psicoterápico, internamento, grupo de mutua ajuda como o NA, religião e a rede social, especialmente a família. Talvez o conceito mais importante e menos lembrado seja o das doenças associadas a dependência. Um exemplo disto é a relação entre dependência e bipolaridade. Quatro em dez pacientes bipolares apresentam um quadro de dependência química, aqui incluindo o álcool. Se for separado por gravidade este número pode chegar a oito em dez entre os bipolares mais graves. Fica evidente que se não tratar esta doença associada, a recuperação será bem mais difícil.

Esta é uma área nova de pesquisa, mas promissora. Na semana passada ocorreu a reunião anual da Society for Neurocience em San Diego na Califórnia. Contou com 300 mil neurocientistas. Foram apresentados dois estudos com Estimulação cerebral e dependência química. Um em humanos e um em ratos. O primeiro foi realizado com dependentes de tabaco. O estudo realizado por uma equipe de Israel dividiu os probandos em três grupos. Curiosamente os que tiveram a melhor resposta foram os que receberam sessões de Estimulação Magnética Transcraniana de alta frequência e durante as sessões foram expostos a imagens de cigarros acesos. O estudo em animais usou camundongos que tiveram acesso irrestrito à heroína até tornarem-se dependentes. A estimulação foi realizada por meio de eletrodos e o resultado foi a diminuição do consumo da droga. Os estudos sugerem que estímulos em áreas específicas do Lobo Frontal ajuda na superação de dependência de substâncias.

O auxílio da Estimulação Magnética Transcraniana pode ser efetivo na recuperação de dependentes de maneira indireta. O tratamento da depressão e do transtorno bipolar (fase depressiva) está bem determinado e regulamentado no Brasil. Fica evidente que os transtornos psiquiátricos, como o transtorno bipolar, aumentam consideravelmente a chance de desenvolver dependência. Tratar os transtornos associados pode aumentar proporcionalmente a chance de recuperação. O uso da Estimulação Magnética Transcraniana poderá ajudar na recuperação da dependência, muito mais de forma indireta, neste período inicial, antes da replicação destes achados específicos entre Estimulação Magnética Transcraniana e Dependência Química.









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